Existe um crescente corpo de trabalho para quantificar o impacto dos programas de sustentabilidade e assumir uma visão mais estratégica das decisões de investimento da comunidade. Intuitivamente, as empresas mineiras compreendem o processo de ser um bom cidadão corporativo e gerar relações positivas com as comunidades, a sociedade civil e os governos que promove fatores chave do negócio, incluindo o acesso à terra, aprovações dos governos, acesso a recursos e acesso a capital. Quantificar o valor destes investimentos e planear em conformidade, no entanto, tem de há muito constituído uma dificuldade para os promotores do desenvolvimento de empresas e da comunidade.
Através de uma parceria multilateral, incluindo a IFC, Rio Tinto, Deloitte, Newmont, a Agência de Garantia de Investimento Multilateral (MIGA) e o Governo da Noruega, foi desenvolvida a Ferramenta FV que quantifica o retorno de investimentos de sustentabilidade específicos do local. Este valor é geralmente entendido como assumindo a forma de criação de valor direta (ou seja, custos reduzidos, benefícios gerados) ou proteção de valor indireta (ou seja, mitigação do risco, eficácia do programa). Estas informações ajudam a justificar e estabilizar o orçamento anual que as empresas dedicam a esforços de sustentabilidade. Cria incentivos, no interior das empresas, para investir nas suas comunidades. A Ferramenta FV é um software baseado na internet disponível em www.fvtool.com.
Piloto da mina de ouro de Ahafo
A mina da Newmont Mining Corporation Ahafo tem sido um piloto para testar a Ferramenta FV nos últimos anos e está a testar atualmente o potencial de integrar formalmente a Ferramenta FV na sua orçamentação e planeamento de processamento de projetos de capital para investimentos operacionais relativos a sustentabilidade, mitigação de impactos e benefícios da comunidade. A empresa acredita convictamente que o seu desempenho nas áreas da responsabilidade social e ambiental (ESR) é fundamental para o seu sucesso futuro. Sendo este sentimento amplamente partilhado em toda a empresa, existem perspetivas divergentes entre as partes interessadas internas da empresa sobre quanto deve a empresa gastar em investimentos de sustentabilidade e quais os benefícios para o negócio em temos mais concretos.
A Newmont prevê que a ferramenta permitirá que as equipas da área ambiental e social comuniquem melhor, em termos mais rigorosos, o valor dos investimentos de sustentabilidade. Enquanto a Ferramenta FV disponibiliza um intervalo valor líquido presente (NPV) estimado de uma carteira de sustentabilidade específica, o verdadeiro valor da utilização da Ferramenta FV é o processamento, o envolvimento trans-funcional e a capacidade de apresentar uma justificação explícita para cada programa em termos de criação de valor direto e mitigação do risco. Conversação com funções não ligadas à sustentabilidade A gestão de programas e orçamentos com resultados e impactos de sustentabilidade diretos reside em funções de sustentabilidade não tradicionais numa empresa. Por exemplo, os programas de Ligações e Aprendizagem da Newmont Ahafo são geridos pelas funções de Cadeia de Fornecimento e Formação Desenvolvimento e são concebidos para gerar oportunidades de negócio locais e formação em competências avançadas para membros da comunidade local. Foi necessário um processo intenso de recolha de dados para gerar inputs para a Ferramenta FV. A Ferramenta FV proporciona uma plataforma comum para as equipas de risco, responsabilidade social, recursos humanos, saúde e segurança, cadeia de fornecimento, operações e tereno se envolverem em discussões para compreender a estratégia, dados, análises e processo de tomada de decisões relacionados com investimentos de sustentabilidade e despesas associadas.
Proteção de valor e gestão do risco
As equipas de ESR e risco trabalharam de perto para identificar riscos a partir do registo de riscos da mina da Newmont Ahafo que está a ser gerido por investimentos de sustentabilidade, incluindo a gestão de expectativas da comunidade quanto a empregos e benefícios, imigração, qualidade da água e acesso, relações públicas, envolvimento de partes interessadas e questões relacionadas com compliance. O processo da Ferramenta FV reforçou a compreensão e a convergência entre as equipas de risco, financeiras e de responsabilidade social e conduziu a uma crescente apreciação entre o pessoal da Newmont da relação entre investimentos de responsabilidade social e gestão de risco e a capacidade do pessoal de ESR comunicar a partir de uma perspetiva de risco e financeira.
Perspetiva de criação de valor
Foi realizada uma análise de custo-benefício para cada investimento de sustentabilidade pelo pessoal da área financeira e de ESR para identificar “geradores de valor” ou ganhos de produtividade/poupanças para a Ahafo. Onde não existiam evidências para suportar os geradores de valor, foram desenvolvidos pressupostos conservadores e identificados indicadores de desempenho chave para futura monitorização e avaliação. A área financeira foi crítica para este processo ao apoiar a equipa de ESR a exprimir o valor dos seus programas em termos de custo (despesas operacionais e despesas de capital), benefícios (por ex. poupanças de custo e produtividade geradora de ganhos financeiros) e mitigação do risco operacional. Por exemplo, uma análise de custo-benefício do programa de controlo da malária da Newmont Ahafo revelou diversos geradores de valor chave. Em 2006, a taxa média mensal de incidência de malária na mão-de-obra era de cerca de 8%, custando à mina de Ahafo quase 76.680 horas de produtividade perdida devido ao absentismo dos trabalhadores e dos contatados, traduzindo-se num custo operacional de quase 400.000 dólares norte-americanos. Sem o programa de controlo da malária, a projeção dos custos diretos para a empresa ao longo de um período de cinco anos (2006–2010) devido apenas ao absentismo teria sido de cerca de 2 milhões de dólares norte-americanos. O custo para medicação e consultas médicas (média de 30 dólares norte-americanos por caso) para esse período de cinco anos teria ficado em cerca de 500.000 dólares norte-americanos e os custos indiretos (por ex. moral da mão-de-obra, recusas de candidatos para trabalharem na Ahafo, custo de familiar que contraiam malaria, etc. a 30 dólares norte-americanos por caso) contribuindo com outra perda de 500.000 dólares norte-americanos. Assim, o custo total da malária para a empresa, sem um programa de controlo da malária ao longo do período de cinco anos, teria sido de cerca de 3 milhões de dólares norte-americanos, no mínimo.33 Em comparação, a Newmont Ghana investiu 1,5 milhões de dólares norte-americanos no programa de controlo da malária no mesmo período de cinco anos. Este resultado alcançado pela empresa na luta contra a malária recebeu reconhecimento global da Global Business Coalition em 2010. A equipa de projeto reconhece algumas limitações à integração completa dos resultados financeiros da Ferramenta FV devido a princípios contabilísticos, mas observa uma melhor compreensão do valor partilhado por funções não relacionadas com a sustentabilidade.
Integração do processo de negócio
O teste real da Ferramenta FV será determinado pela capacidade de a Ahafo integrar formalmente o processo da Ferramenta FV no ciclo de processo e planeamento do negócio. No passado, o pessoal de ESR baseava-se em normas de responsabilidade social da Newmont, na intuição em torno dos benefícios e em argumentos morais para defender necessidades de orçamento, em vez da linguagem do valor, NPV e risco. No último ano, verificou-se uma melhoria considerável na capacidade do pessoal de ESR avaliar os seus investimentos de sustentabilidade usando princípios de criação e proteção de valor. Estão a ser realizados esforços contínuos de formação para expor o pessoal de ESR e financeiro aos tipos de inputs necessários e análise de resultados gerados pela Ferramenta FV e a utilização de modelos de orçamentação.
Ensinamentos retirados
Um ensinamento chave da utilização da Ferramenta FV é não tanto quanto custa um investimento de sustentabilidade, mas antes quantas peças de informação dispersas limitaram a empresa de ter discussões mais informadas com base no valor de investimentos de sustentabilidade numa linguagem compreensível para o negócio. Ou seja, o resultado é um processo contínuo para avaliar os investimentos de sustentabilidade, mais do que uma priorização em dado momento temporal ou uma recomendação de ir/não ir. A melhoria das comunicações na empresa e com partes interessadas ajudou a criar um entendimento comum de como a definição de valor deverá estar no centro de toda a alocação de recursos da empresa daqui para a frente.
Fontes:
- Private Sector Integrated Malaria Control in Ghana: Methods, Impact and Business Case for Protecting Employees – Godwin Fuseini, Peter Ebsworth, Dave Knight, Paul Caiger, Chuck Burns, Michael J. Bangs.